Em tempos de trabalho virtual, como projetar escritórios funcionais?

A organização dos escritórios e espaços de trabalho tem sido concebida como resposta a uma sequência de tarefas, de um fluxo de produção.
O conceito de linha de produção ainda faz sentido em muitos setores produtivos e de prestação de serviços. Em um ambiente de saúde, por exemplo, o paciente percorre praticamente uma ‘linha de produção fordista’ e a ele são incorporados os serviços, (medições, diagnósticos, procedimentos) com variações conforme a evolução do seu estado de saúde.
Todavia, para trabalhos que se baseiam em criação e processamento de informações, o que caracteriza a funcionalidade do espaço de trabalho?
Antigamente por exemplo uma loja era uma entidade única (compra>deposito>venda). Com o crescimento das demandas, melhoria dos meios de comunicação e transporte e aumento dos valores locacionais em áreas urbanas ficou dispendioso ter o depósito no mesmo endereço do escritório, ao mesmo tempo que foi possível descentralizar serviços para fora dos centros urbanos. No momento seguinte os próprios escritórios foram se diluindo, enviando setores menos estratégicos ou com grande ocupação de área (call centers, serviços de apoio) para outros endereços, sempre na busca por diminuição de custos locacionais.
Na continuação dessa lógica, hoje vemos a busca por contínua otimização de recursos físicos. Modernas plataformas de serviços procuram dar utilização a todo tipo de ociosidade presente no cotidiano. Air bnb, Uber, são os maiores exemplos onde o gerenciamento e compartilhamento de recursos ociosos é utilizado para gerar economias.
No escritório contemporâneo não é diferente. As novas dinâmicas do trabalho virtual, a mobilidade e a variação das tarefas tem contribuído para que o espaço de trabalho apresente ociosidades ocasionais (e constantes), incitando a uma nova otimização do espaço.
Home office, teletrabalho, incitam a essa modificação do ambiente, induzindo a desaparecer a ligação entre o colaborador e seu posto fixo em uma empresa.
As condições para a plena atividade passam a ter mais importância do que a contiguidade física entre duas atividades sequenciais do fluxo do processo. Para a maioria das tarefas hoje, ter computador veloz e uma internet idem é mais importante que ter uma mesa grande no escritório.
Essas mudanças da natureza do trabalho também geram novas necessidades que não existiam antes.
Hoje, com a constante revisão e redesenho de processos de trabalho exigindo reavaliações, alinhamentos de equipe, etc, as reuniões, treinamentos, conferências, são muito mais frequentes que anos atrás. Portanto, espaços apropriados para troca de idéias, encontros, conferências e teleconferências, reuniões formais e informais são muito mais necessários.
O atendimento a essa demanda tem gerado espaços diferentes e inusitados, por vezes nada parecidos com a imagem que se tem de escritório desde 50 anos atrás.
A imagem atual do espaço dos escritórios de novas empresas (principalmente de tecnologia e informação), se apresenta muito mais disperso, não hierárquico e fluido. Assim como a natureza do trabalho em si, em constante mutação e dissolução.
Todavia, atividades de caráter introspectivo, analítico, sigiloso, continuam a (co)existir, e demandam espaços mais tradicionais como salas fechadas e silenciosas.
O espaço de trabalho contemporâneo portanto deve atender a essa nova realidade, proporcionando a coexistência de trabalho de diversas naturezas: atividades individuais, espaços colaborativos, para pequenas equipes, para grandes equipes, espaços fechados, espaços silenciosos, fixos ou compartilhados.
Resumidamente: devemos entender mais sobre a natureza das atividades ali desenvolvidas e o cotidiano das equipes e da empresa.
Há alguns anos projetar escritórios consistia em montar um lego de mesas e salas. Hoje isso não é mais suficiente. Ficou mais complexa a tarefa de projetar escritórios, porque não existe mais um modelo que funcione pra todas as empresas.
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